De que forma um analista funcional transforma requisitos em soluções

25 de Setembro de 2025

O desenvolvimento de software é um processo altamente disruptivo, que envolve equilibrar negócios e stakeholders de diversos contextos, cada um com capacidades, expectativas e perspetivas diferentes. Naturalmente, esta diversidade pode gerar desafios na definição dos objetivos e na forma como estes devem ser alcançados.

Tomemos como exemplo um gestor de uma entidade de saúde, que assume o papel de intermediário num projeto de desenvolvimento de uma plataforma digital para a mobilidade de pacientes. Num workshop de levantamento de requisitos, o gestor considera que a implementação da funcionalidade de teleconsulta deve ser uma prioridade. No entanto, o programador alerta que essa funcionalidade exigirá um tempo de desenvolvimento significado.

Surge, assim, um impasse. Para garantir que se chega a uma decisão equilibrada e viável, torna-se essencial a intermediação de um profissional capaz de estabelecer a ponte entre a vertente tecnológica, o negócio e as pessoas. Esse profissional é o Analista Funcional.

O Analista Funcional tem como responsabilidades analisar o problema ou a oportunidade de negócio que deu origem ao projeto, definir a melhor metodologia para levantamento de requisitos, intermediar com os stakeholders e apoiar o desenvolvimento de software. O resultado desse trabalho deve resultar numa documentação funcional clara e objetiva, assegurando que a especificação da plataforma seja compreensível para todos os envolvidos e represente uma visão alinhada do projeto.

O que são requisitos funcionais e não funcionais

Um requisito representa uma necessidade identificada. No contexto do desenvolvimento de software, os requisitos dividem-se em funcionais e não funcionais, abordando o que o sistema deve fazer, como se deve comportar e quais as regras, restrições e características a cumprir.

Seguindo o padrão SMART, os requisitos devem ser específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais, critérios essenciais para garantir a sua execução com sucesso.

Um requisito funcional define o que a plataforma deve realizar:

Já os requisitos não funcionais estão relacionados com a forma como a plataforma funciona, envolvendo aspetos como segurança e performance, podendo ser representados como o seguinte:

O processo de transformação de requisitos em soluções

Tal como descrito anteriormente, o levantamento de requisitos é um processo fundamental para extrair ideias, identificar objetivos e compreender desafios específicos de diferentes áreas de negócio. Para isso, o Analista Funcional deve definir a estratégia adequada e aplicar metodologias eficazes de recolha de requisitos.

Entre as técnicas utilizadas destacam-se:

• - Mapeamento BPMN (Business Process Modelling Notation) para análise do estado atual (as-is) e futuro (to-be);
• - Gap analysis suportada por BPMN;
• - Focus groups, workshops e entrevistas com stakeholders.

Após a recolha de requisitos, estes são formalizados num Documento de Análise Funcional (DAF), onde se incluem metadados como ID, requisito de negócio associado e prioridade. A validação final do documento pelos intervenientes garante a sua adequação ao projeto.

Ferramentas e métodos utilizados por analistas funcionais

O DAF contém especificações detalhadas da plataforma, apresentadas de forma clara para programadores e stakeholders. Além dos requisitos de negócio e funcionais, o documento inclui casos de uso, que descrevem a interação do utilizador com o sistema para alcançar um determinado objetivo.

Exemplo de caso de uso:

Além disto, o Analista Funcional pode apresentar diagramas BPMN dos processos, diagramas de estados, perfis de utilizador, wireframes da plataforma, textos de notificações a enviar e matrizes de permissões para cada perfil de utilizador.

Desafios na tradução de necessidades para soluções tecnológicas

Um dos principais desafios enfrentados pelos Analistas Funcionais são as alterações aos requisitos ao longo do projeto. Estas podem surgir devido a novas restrições ou à evolução das necessidades do negócio. Nessas situações, cabe ao Analista Funcional avaliar a viabilidade da implementação do requisito, considerando os prazos, orçamento e complexidade técnica. Assim, é necessário equilibrar as expectativas do cliente com as capacidades do projeto, o que pode gerar dificuldades devido à resistência deste face às limitações existentes.

Outro desafio é a conexão entre os programadores e a especificação funcional. Devido à natureza extensa da documentação, os programadores, que frequentemente lidam com um elevado número de tarefas a realizar, recorrem ao Analista Funcional para esclarecimentos diretos Dependendo da dimensão da equipa e da divisão de responsabilidades, isso pode aumentar a carga de trabalho do analista, especialmente em ambientes Agile, onde as entregas são rápidas e contínuas. A chave para mitigar essa sobrecarga está na otimização da comunicação e no alinhamento claro de expectativas, permitindo uma colaboração mais eficiente sem comprometer a qualidade do trabalho.