O papel de COBOL na infraestrutura bancária
28 de Julho de 2025

A linguagem COBOL (Common Business-Oriented Language) surgiu no final da década de 1950 e início da década de 1960, como resultado de uma iniciativa para padronizar uma linguagem de programação voltada para aplicações comerciais e administrativas. Durante este período, diferentes empresas e organizações governamentais desenvolviam os seus próprios sistemas, o que gerava incompatibilidades e dificultava a troca de informações e a manutenção de software.
Com o objetivo de criar uma solução universal, em 1959, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos convocou um comité de especialistas em computação, conhecido como CODASYL (Conference on Data Systems Languages), para projetar uma linguagem acessível, independente de fabricante e focada no processamento de dados empresariais. Entre os participantes desse comité estava Grace Hopper, uma das figuras mais influentes na história da programação e precursora de conceitos utilizados em COBOL.
O principal propósito do COBOL era permitir que organizações públicas e privadas desenvolvessem aplicações para a gestão de transações financeiras, folhas de pagamento, controlo de stocks e outros processos administrativos. Para isso, a linguagem foi projetada com uma sintaxe próxima da língua inglesa, facilitando a sua compreensão e manutenção tanto por profissionais de negócios como por programadores.
Desde então, o COBOL tornou-se numa das linguagens mais utilizadas no mundo corporativo, sendo essencial para o funcionamento de bancos, seguradoras, governos e grandes corporações. Mesmo com o avanço de novas tecnologias, muitos sistemas ainda dependem do COBOL devido à sua estabilidade, fiabilidade e vasta base de código acumulado ao longo das décadas.
COBOL como pilar dos sistemas bancários
São vários os motivos que levam os bancos a continuar a utilizar o COBOL. Os sistemas bancários exigem alta fiabilidade, e esta linguagem de programação tem um histórico comprovado de funcionamento estável, sem falhas críticas. Muitos bancos têm décadas de código COBOL acumulado, sendo que reescrever os sistemas seria dispendioso e um processo algo arriscado. O COBOL foi projetado para processar grandes volumes de transações com eficiência, sendo ideal para bancos e seguradoras. Instituições financeiras globalmente conhecidas, como JPMorgan Chase, Citigroup, Wells Fargo, HSBC e ABN AMRO, ainda utilizam esta tecnologia.
A importância de COBOL nos bancos
As instituições bancárias utilizam o COBOL principalmente no backend, pois a linguagem foi projetada para o processamento de dados em larga escala e operações transacionais. Isto significa que sistemas críticos, como o processamento de pagamentos, movimentação de contas, empréstimos e controlo de transações, ainda dependem desta tecnologia.
No entanto, os frontends desses bancos geralmente utilizam tecnologias modernas, como Java, JavaScript, Python, Angular e React, para criar interfaces amigáveis e responsivas para os seus utilizadores. Desta forma, o COBOL situa-se "nos bastidores" dos sistemas, onde processa os dados que as plataformas modernas exibem para os seus clientes e colaboradores.
Desafios e considerações de COBOL nos dias de hoje
Escassez de programadores
Por ser uma linguagem antiga, poucos programadores jovens se especializam nela. Com a reforma dos especialistas mais experientes, torna-se difícil encontrar profissionais qualificados para manter e atualizar os sistemas existentes.
Manutenção de sistemas
Os sistemas COBOL apresentam alguma complexidade e custos elevados de manutenção. Além disso, muitos foram escritos há décadas, com código difícil de entender e pouca documentação, tornando qualquer alteração um verdadeiro desafio.
Integração com novas tecnologias
Os sistemas COBOL precisam de se conectar a APIs, aplicações web e serviços em nuvem. Esta adaptação pode ser complexa e exigir soluções intermediárias, como middleware, para facilitar a comunicação entre tecnologias antigas e modernas.
Dependência de infraestrutura legada
Muitos sistemas COBOL ainda operam em mainframes, que são robustos, porém dispendiosos quanto à sua manutenção. A migração para ambientes modernos, como a nuvem, exige um investimento significativo e especialistas com um conhecimento profundo tanto de COBOL como de novas tecnologias.
Modernização e futuro de COBOL na infraestrutura bancária
A modernização do COBOL nos bancos é um desafio estratégico, porém, existem diferentes abordagens para lidar com o processo sem comprometer a estabilidade dos sistemas. Algumas soluções viáveis incluem:
Reengenharia e refatoração Gradual
Melhorar o código COBOL existente sem reescrevê-lo completamente. Aplicar boas práticas de programação para facilitar a manutenção e documentação. Além disso, aumentar a integração com APIs modernas para conectar os sistemas legados a novas tecnologias.
Utilização de wrappers e middleware
Criar interfaces (APIs REST, SOAP, JSON) que permitam que os sistemas modernos comuniquem com COBOL sem modificar o seu código-fonte diretamente. Esta abordagem possibilita a conexão entre COBOL e aplicações web, móveis ou serviços em nuvem.
Migração para plataformas modernas
Manter o código COBOL, mas migrar a sua execução para uma nuvem híbrida ou mainframes modernos, como IBM Z, que oferecem maior escalabilidade e integração com novas tecnologias. Também é possível utilizar ferramentas como Micro Focus Enterprise Server e IBM Cloud for COBOL, que permitem rodar COBOL em ambientes mais modernos.
Conversão gradual para outras linguagens
Converter gradualmente COBOL para outras linguagens de forma controlada e progressiva. Além disso, investir na capacitação de novos programadores para manter e modernizar os sistemas COBOL, garantindo a continuidade e evolução dessas aplicações.
A modernização do COBOL nos bancos é um processo essencial para garantir a continuidade e a eficiência dos sistemas que ainda desempenham um papel crítico no setor financeiro. Embora substituir completamente essas aplicações seja um desafio complexo e arriscado, existem estratégias que permitem equilibrar inovação e estabilidade.
Além disso, investir na capacitação de novos profissionais é fundamental para manter e evoluir os sistemas a longo prazo. O futuro do COBOL nos bancos não depende apenas da tecnologia, mas também da adaptação das instituições financeiras aos novos desafios do mercado, garantindo que esses sistemas continuam relevantes e integrados no ecossistema digital.
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